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O púlpito moderno está em crise, o que se verifica pelo conteúdo da mensagem entregue hoje em boa parte das igrejas e mais especialmente nas grandes celebrações como congressos e conferências. O evangelho psicológico de auto-ajuda pregado em muitos púlpitos atualmente em nada se parece com o Evangelho de Cristo que caracteriza-se pelo carregar diário da cruz, a negação de nós mesmos e o discipulado comprometido com o Reino. Em virtude disso, as pessoas buscam resultados, coisas, benefícios pessoais e não a Palavra de Deus. Querem as bênçãos de Deus, mas não Deus. Desejam prosperidade e sucesso, mas não têm sede da Palavra. Os cristãos precisam ter vontade de se reunir não somente para ouvir cantores famosos ou pregadores conhecidos, mas para ouvir a Palavra de Deus. O centro do culto bíblico é a pregação da Palavra de Deus. É preciso que voltemos a ser o “povo da Palavra”, “do livro”, Não existe verdadeiro avivamento espiritual sem a restauração da autoridade da Palavra.

Desta forma, almas vazias somente ficarão cheias de Deus se os púlpitos forem teocêntricos. A pregação da sã doutrina é a única esperança para alguém sem qualquer esperança, acima de tudo a da salvação. O vazio da alma humana só será preenchido pela presença de Deus quando os pregadores da Palavra dedicarem-se a expor a mensagem bíblica não a trocando por aquelas que evitam confrontos, na superficialidade de seus interlocutores.

As pessoas têm a Bíblia à sua disposição, mas não conhecem seu conteúdo real, nem possuem a hermenêutica correta para a sua devida interpretação. A conditio sine qua non para que a igreja cresça é o conhecimento correto da verdade de Deus. O nosso culto é racional (Rm 12). Não nos anula o cérebro. O sincretismo religioso anula a razão. A pregação é diriga à mente. John Stott disse que crer é também pensar. Pregar é explicar o texto. O conhecimento da verdade encha a nossa mente de luz. O povo que conhece a Deus é forte e ativo (Dn 11:32).

Hoje todos os grupos religiosos usam a Escritura para defender os seus pressupostos. O grande problema, contudo, não é a citação da Escritura, mas o modo como a abordamos. A tarefa hermenêutica da igreja é algo supremamente determinante para o correto entendimento da verdade de Deus.

A distância da Palavra de Deus faz com que um povo se afaste de Deus. A missão de trazer de volta a Palavra de Deus ao povo está na responsabilidade dos verdadeiros ministros da Palavra. Se como ministros negligenciarmos o ensino e a pregação fiel daquilo que o Senhor diz, jamais a igreja será avivada.

Não há crescimento quantitativo nem qualitativo da igreja sem que haja a redescoberta da verdade de Deus, sem que haja a interpretação correta da Palavra de Deus, bem como a proclamação fiel dela e como consequência o genuíno arrependimento de pecados. Quando a Igreja do Senhor prega a Palavra com integridade e vive em santidade Deus dá o crescimento.

CARACTERÍSTICAS DA PREGAÇÃO EVANGÉLICA

Bíblica

A Escritura Sagrada é o conteúdo da pregação evangelica, o pregador não deve meramente pregar sobre as Escrituras, deve pregar as Escrituras. Hernandes Dias Lopes cita a afirmação de J. I. Packer “A Bíblia é Deus pregando”. Quando o homem ouve a pregação da Palavra de Deus, ele ouve o próprio Deus.

A Bíblia Sagrada é completa nada lhe pode ser acrescentado, é possível estudar a Escritura e desenvolver seu ensino a respeito de qualquer assunto específico. Ao estudá-la o pregador descobre que a Bíblia ensina um sistema doutrinário que aparece em qualquer trecho que se escolhe para pregar, então, o pregador também deve possuir conteúdo doutrinário.

A crise que se instaurou no movimento evangélico é o retrato do abandono da supremacia da Palavra, e como resultado deste abandono o racionalismo que prega a pluralidade ao invés da singularidade do Senhor Jesus como o Salvador e Senhor, por outro lado, o misticismo religioso pregando não a genuína mensagem do Evangelho mas sim sonhos e revelações subjetivas regadas ao gosto do pragmatismo característico da pós-modernidade. Embora exista um crescimento explosivo do número de evangélicos em nosso país, a sociedade brasileira não tem sofrido transformação.

Cristocêntrica

João Batista um dos mais notáveis pregadores de todos os tempos apontava para Cristo em sua mensagem e afirmava “convém que ele cresça e eu diminua” (Jo 3.30). Não se pode aceitar que um pregador fique uma hora diante do povo de Deus sem apresentar a Cristo.

Muitos sermões hoje tem sido pregados sem ao menos mencionar o sacrifício de Jesus Cristo. Os pregadores da igreja primitiva pregavam seus sermões com base no Antigo Testamento, entretanto sempre apontando para o Senhor Jesus Cristo. Cada parte da Escritura aponta para Cristo. O Senhor Jesus é o grande assunto das Escrituras, é o foco da história e da profecia. O próprio Senhor Jesus ao expor as Escrituras aos discípulos no caminho de Emaús começou por “Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24.27).

Clara

Os legítimos pregadores usam linguagem clara sem chamar a atenção para si mesmos. A palavra que não é apresentada em termos simples não é a boa nova de salvação. Paulo que é sem dúvida um modelo de pregador decidiu “pregar o Evangelho; não com sabedoria de palavra, para que não se anule a cruz de Cristo” (1 Co 1.17).

Prática

Em nossos dias muitos pregadores procuram conhecer o sentido do texto, o que é legítimo, entretanto, poucos dedicam-se a aplicar a palavra as necessidades dos ouvintes. É preciso que os pregadores dêem mais ênfase na aplicação da mensagem as necessidades dos ouvintes. Aconteça o que acontecer a Palavra de Deus não volta vazia (Is 55.11).

O PERFIL DO PREGADOR

Exemplo pessoal

O mais importante da mensagem não é tão somente o sermão, mas sim a a vida do pregador, pois a mesma deve falar mais alto do que o seu sermão. Antonio Vieira dizia que antigamente só se falava aos ouvidos, entretanto, hoje deve-se falar mais aos olhos que aos ouvidos, como disse Emerson: “o importante não é o que se aprende, mas com quem se aprende ”.

Santidade pessoal

Hernandes Dias Lopes diz que “a pregação com consistente exegese, sólida teologia e brilhante apresentação não glorificará a Deus, não alcançará os perdidos nem edificará os crentes sem um homem santo no púlpito. O que nós precisamos desesperadamente nestes dias não é apenas pregadores eruditos, mas sobretudo pregadores piedosos .” Lutero dizia que sermão sem unção endurece o coração. O púlpito evangélico precisa ser ocupado não apenas por pregadores eloquentes sopretudo por pregadores piedosos, espirituais. Robert Murray McCheyne diz que “Não é a grandes talentos que Deus abençoa de forma especial, mas à grande semelhança com Jesus. Um ministro santo é uma arma nas mãos de Deus .” Para o Reformador Martinho Lutero a responsabilidade do mensageiro das boas novas é tão grande que “Cristo fala e prega aos corações das pessoas no mesmo momento em que o pregador entrega as suas palavras de forma oral e física às pessoas.” E. C. Bounds diz que “o pregador é mais que o sermão.A pregação não é tarefa de uma hora. É a manifestação de uma vida.”

Fidelidade a Palavra

A maior necessidade da igreja é de homens que conheçam, vivam e preguem a Palavra de Deus com fidelidade. A pregação é a maior necessidade da igreja e do mundo. D. Martin Lloyd-Jones dizia que a pregação é a tarefa mais importante do mundo. O legítimo pregador deve ser uma pessoa comprometida integralmente com a Palavra de Deus, que não preocupe-se apenas em contar belas experiências, mas que exponha com fidelidade a Palavra. Mutos pregadores não estudam, não leem, porém, o expositor da Bíblia deve ser estudioso da Palavra de Deus, afadigando-se na sua leitura.

Oração

Somente prevalecerá em público quem persevera na intimidade em oração. O pregador antes de aprender a pregar deve aprender a orar. Sem fervente oração não haverá pregação de poder.

– Paulo André Barbosa, pastor vice-presidente da AD Guaíba/RS, professor de Teologia Bíblica e Sistemática do Instituto Bíblico Esperança, Porto Alegre/RS, escritor e conferencista.

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